Thursday 4 September 2008

Минск

Depois de 4 meses sem viagens a sério (graças a um belo acidente de mota na Córsega), fui a semana passada a Minsk. Uma autêntica viagem ao passado, a uma cultura que sonhei visitar durante tantos anos, e que correspondeu exactamente às minhas expectativas.

Depois de um vôo directo Paris-Minsk (bem caro) de 3h, vieram-me buscar ao aeroporto e fomos directos para a casa deles, nos arredores de Minsk, onde toda a família estava à minha espera para jantar (à meia-noite!). Uma casa construída pelos bisavós da Алеся, que já vai na quarta geração: o bisavô morreu na 2ª guerra mundial, perto de Kaliningrad.
É uma casa linda, que aproveitei para visitar no primeiro dia. Por dentro pouco deve ter mudado desde que foi construída; ADOREI o rádio / gira-discos, que ainda funciona!:
Muito se bebe naquele país. Perdi conta aos shots de vodka e cognac durante o jantar... Claro que não é sempre assim, mas sempre que haja visitas, é uma razão para se esvaziar mais uma garrafa de vodka. Falando em gastronomia, experimentei muita comida típica, como por exemplo a щи (sopa de beterraba), сметана (natas que metem em tudo, carne, sopa, salada), кефир (bebida à base de nata de leite...), квас (cerveja sem álcool? Bah), etc etc... Gostam tanto dessa cerveja sem álcool, que até fazem bicha para a comprar!:
E muito gosta aquela gente de carne fumada (muuuito boa!). Aliás, desde o pequeno-almoço que se come колбаса com muitos vegetais (quase tudo do quintal). Quintal esse que é lindo de pasmar, com um belo jardim de flores à entrada, e cultivação de tudo o que se possa pensar: batatas, cenouras, tomates, cebolas, morangos, framboesas, maçãs...

A arquitectura é tipicamente soviética - 80% do país foi destruído na 2ª guerra mundial, e reconstruído durante a época da URSS. Os arredores estão cheios dos feios prédios cinzentos, com centenas de apartamentos.Já o centro da cidade é bastante mais bonito, mas não deixa de ser muito soviético. A "porta da cidade", à frente da estação dos comboios, por exemplo, continua com o seu escudo soviético, e outros emblemas espalhados pela cidade, como os murais em autêntico estilo da época.
Muitos outros emblemas soviéticos existem, como a estátua de Lenin, que continua à frente do palácio presidencial. Aliás muito gostam de "palácios"; o palácio da República é bonito e moderno, com um enorme anfiteatro por dentro.

O governo é bastante pró-Russo, e a transição de Comunismo para Democracia não foi tão radical como noutras ex-repúblicas soviéticas. Mas não deixam de haver contrastes entre velho e novo. O maior centro comercial da cidade, por exemplo, ainda pertence ao estado; é velho e feio, em autêntico contraste com a biblioteca do estado, que é nova e bonita:

Os meios de transporte são eficazes e baratos (uma viagem de autocarro, trólei, eléctrico ou metro custa 0,2€). E também bastante cheios a maior parte das vezes. Mas sabem desenrascar-se por lá: o que fazer quando os autocarros estão demasiado cheios? Inventam-se os táxis partilhados! Vêm-se pela cidade toda.

Falando em meios de transporte, adorei o metro. Tem duas linhas que se cruzam para cobrir a cidade. Vai mesmo de uma ponta à outra, mas com poucas estações. Resultado: longas viagens entre estações, a grande velocidade! Também gostei muito dos nomes das estações: Fábrica de carros e bicicletas, Fábrica de tractores... Ainda hoje as fábricas nacionais são motivo de grande orgulho.

Voltando à arquitectura, gostei muito do edifício dos correios, com o seu relógio universal:

Mas o lugar que mais me impressionou foi esta praça, com um monumento comemorativo da victória na 2ª guerra mundial:
Nota-se o espírito ainda pouco capitalista do país. A maior parte das lojas, por exemplo, chamam-se simplesmente продукты (прадукты em Bielorusso, produtos em Português!). Tudo é muito barato em comparação com a Europa Ocidental, desde que sejam produtos locais ou da visinha Rússia, claro; produtos importados são considerados de luxo, e custam mais do que nos países de origem (uma pequena garrafa de Bayleys por exemplo custa 35€!).

Mas nota-se alguma infiltração capitalista. O McDonalds, por exemplo, é bastante concorrido; a tradução fonética dos menus muito me fez rir! É o ponto de encontro favorito dos jovens estudantes de Minsk. Prometo que só lá fui uma vez, e mais pelo choque cultural do que outra coisa...

Enfim, foi uma excelente viagem, muito ao meu gosto. Espero poder continuar a explorar a Europa de Leste brevemente.